quarta-feira, 26 de março de 2014

"100 anos de história: mais que um clube, uma nação" Capítulo 3 - 1942: "Não nos querem Palestra, pois seremos Palmeiras e nascemos para ser campeões"

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Perseguição, preconceito, calúnia e difamação. Estes foram apenas alguns dos obstáculos que o Palestra Italia foi obrigado a enfrentar no ano de 1942, um dos mais simbólicos de toda a história da Sociedade Esportiva Palmeiras. Tudo isso por conta das interferências em que o clube foi vítima no cenário político mundial da época. Fazendo um retrospecto no contexto histórico, poderemos entender melhor como tudo aconteceu.

A eclosão da Segunda Guerra

O crescimento da Segunda Guerra Mundial aconteceu em setembro de 1939, no tempo em que o exército de Adolf Hitler, que cada vez mais ganhava forças depois de invadir vários países, tentou dominar a Polônia. Isso obrigou não só os poloneses a planejar uma reação, como também foi ápice para que os demais países, principalmente os Estados Unidos e a Inglaterra, entrassem na disputa para impedir a hegemonia nazifascista e, de quebra, perderem o poder para outras grandes potências mundiais. Já a Alemanha, buscou apoio político-militar de outros países totalitários, como Itália e Japão. A partir daí, a Segunda Guerra Mundial teve seu início entre os países Aliados e os países do Eixo.

Brasil entra no embate

No período do regime ditatorial no Brasil, na época do Estado Novo (1937-1945) o país era liderado por Getúlio Vargas. No início da guerra, o presidente procurava manter uma postura neutra, mas ao olhar do restante do mundo, teria que deliberar sua situação diante do cenário mundial, pois, à medida que solicitava empréstimos milionários aos EUA, o que indicava uma parceria com os norte-americanos, adotava uma conduta governamental tendencial aos países do Eixo, o que gerou muita polêmica na época. Supostos ataques alemães contra navegações brasileiras, entre outros acontecimentos, fizeram com que o governo brasileiro assumisse sua parceria de cunho militar aos EUA que, politicamente, estava sempre disposto a ajudar o Brasil. À vista disso, Vargas anunciava em 1942 repressão total contra os países do Eixo.

Perseguição aos países do Eixo

Depois que o Brasil se uniu à Aliança contra os países totalitários, o estatuto republicano contou com novidades.  No dia 11 de março de 1942, uma portaria foi homologada sob decreto de número 4.166 e determinava que os bens pertencentes a italianos, alemães e japoneses, tanto pessoas físicas quanto jurídicas, poderiam ser confiscados pelo governo brasileiro como forma de compensação aos prejuízos resultantes dos atos de agressão feitos pelos países em guerra contra o Brasil.
Daí em diante, instituições tiveram que mudar seus nomes ligeiramente, caso tivessem qualquer tipo de alusão ao Eixo. Os italianos eram o alvo preferido da alta sociedade, pois, para a elite brasileira, era inaceitável o fato de que os italianos, que vieram para o Brasil para fugir do clima de tensão da sua terra natal, pudessem conquistar qualquer tipo de status dentro da pátria brasileira.
A união dos imigrantes teve como consequência um grande destaque nacional no esporte, assim como na cultura, agricultura, indústria e outros setores. Uma das coisas que mais incomodavam a elite brasileira era o fato de os italianos terem colaborado com a popularização do futebol, esporte este que só era praticado pela burguesia, que por sua vez, obteve o apoio do governo para pressionar os palestrinos.

A mudança de nome

Em março de 1942, a diretoria do Palestra Italia foi obrigada a se adequar às exigências governamentais do Brasil e, pela primeira vez, foi assinada a mudança de nome da instituição, que substituiu o “Italia” em seu nome e passou a chamar-se “Palestra de São Paulo”. Com isso, o escudo ganhou uma adaptação: a cor vermelha se extinguiu e passou a ser verde e amarelo, justamente igual às cores da bandeira nacional.
É válido ressaltar que o São Paulo Futebol Clube, em 1938, chegou a beira da falência e foi ajudado por um jogo beneficente, conhecido por Jogo das Barricas, realizado pelos grandes clubes da capital na época, como Palestra Italia, Corinthians e Portuguesa. O objetivo da campanha era arrecadar fundos em prol do São Paulo para que o rival pudesse manter-se ativo no futebol.
Ata da mudança de nome
Após aproximadamente seis meses da mudança de nome para Palestra de São Paulo, tudo parecia bem e o time se destacava no Campeonato Paulista, quando próprio São Paulo incentivou o governo brasileiro a prejudicar o Palestra, pois os dirigentes rivais perceberam que neste feito, o rival poderia fechar as portas e, com isso, se apossariam de todo o patrimônio físico alheio, principalmente o estádio, que era um dos mais modernos da cidade. E tudo isso com o apoio de grandes nomes da época, como Paulo Machado de Carvalho e o Tenente Porfírio da Paz, ambos dirigentes do São Paulo, que iriam usufruir de suas influências políticas e militares para tomar posse do território esmeraldino.
Para que tal feito tornasse possível, os dirigentes colocaram em prática um plano maquiavélico, onde alegavam que o Palestra deveria sofrer consequências previstas na lei por uso “ilegal” do nome, que fazia alusão à Itália. O Palestra, no entanto, não tinha mais nenhum vínculo nominal com a Itália, além de que, apesar de ser um clube fundado por italianos, sempre foi legitimamente brasileiro.
Com o intuito de evitar qualquer outro tipo de desavença com o governo e de vencer o preconceito, dirigentes do Palestra se reuniram mais uma vez e decidiram mudar o nome da instituição mais uma vez, pois se não o fizessem, o clube certamente seria ameaçado de perder seu patrimônio totalmente.
No dia 14 de setembro de 1942, Ítalo Adami, o presidente do clube na época, reuniu os dirigentes palestrinos para oficializar o novo nome. Com sugestão de Mário Minervino, membro da diretoria, a instituição passou a se chamar Sociedade Esportiva Palmeiras. E as palavras de Minervino se eternizaram na história do agora Palmeiras: “Não nos querem Palestra, pois seremos Palmeiras e nascemos para ser campeões”.

A bandeira nacional

Depois de toda a agitação devido à mudança de nome, o Palmeiras tinha uma última missão naquele ano. Quando ainda se chamava Palestra de São Paulo, o time teve uma ótima campanha no Campeonato Paulista: em 18 partidas, o Palmeiras obteve 16 vitórias e 2 empates, balançando as redes adversárias incríveis 61 vezes e sofrendo apenas 15 gols, ficando na liderança absoluta do torneio.
O dia 20 de setembro de 1942 havia chegado. Em um Pacaembu lotado, a torcida antipalmeirense estava em grande número no estádio e ensaiava as vaias para quando o time Alviverde adentrasse no gramado. Intimidados com a maneira com que seriam recepcionados, o elenco do Palmeiras nada poderia fazer, a não ser entrar em campo de cabeça baixa e apenas ouvir as vaias. E foi nesse momento que o Capitão Adalberto Mendes entrou em cena, se destacando. O Capitão deu a brilhante ideia de o time entrar em campo carregando a bandeira do Brasil. E essa foi a melhor ideia para se ter, pois ninguém ousaria vaiar um time que estaria portando a bandeira nacional, ainda tendo como linha de frente a presença de um capitão do exército, que é autoridade militar.

Morre líder, nasce campeão: a Arrancada Heroica

Elenco do Palmeiras de 1942
O clima de decisão era evidente no Pacaembu e, é claro, a tensão estava presente nos dois lados. Se o Palmeiras vencesse, se sagraria campeão paulista invicto e impediria que o rival, fundado em 1935, continuasse buscando a primeira taça de sua história.
No jogo, o Palmeiras saiu na frente com Cláudio Pinho, aos 20 minutos do primeiro tempo. Ele marcou o primeiro gol do time com o novo nome. Três minutos depois, o São Paulo empatou com Waldemar de Brito. Os palmeirenses ficaram desesperados, mas aos 43 da primeira etapa, o Palmeiras voltou a ter vantagem no placar com gol de Del Nero. No segundo tempo, a equipe tricolor tentava de toda maneira empatar e virar o jogo, mas nada adiantava. Aos 14 minutos, o argentino Echevarrieta marcou o terceiro gol alviverde, que foi um alívio para os palmeirenses, mas era cedo demais para comemorar.
Súmula da partida
O jogo seguiu muito equilibrado e imprevisível até que, aos 19 do segundo tempo, Og Moreira invadiu a área adversária e sofreu uma forte entrada do zagueiro tricolor Virgilio. O árbitro assinalou penalidade máxima e expulsou Virgilio. Os jogadores do São Paulo não queriam deixar o Palmeiras cobrar o pênalti e, seguindo orientações do capitão Luizinho, abandonaram o jogo.

Então, o juiz ainda aguardou o término do tempo regulamentar de jogo e a equipe palmeirense comemorou o título após o apito do árbitro Jaime Janeiro. A atitude e postura do São Paulo decepcionou a torcida que estava no estádio, além de evidenciar deslealdade ao esporte nacional. O Palmeiras, por sua vez, ganhava ainda mais pontos com a população paulistana que, depois do ocorrido, já via o time como um clube brasileiro. E foi dessa forma que o Alviverde conquistou seu maior objetivo, este que aumentou ainda mais a força do Verdão e o embalou  a se destacar como um enorme clube no mundo futebolístico. No fim da partida, Armando Del Debbio, técnico do Palmeiras na época, declamou uma frase que atualmente é muito famosa e que expõe a importância da vitória do Verde no primeiro jogo com novo nome: “O Palestra morre líder, e o Palmeiras nasce campeão”.


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